terça-feira, 13 de julho de 2010

Aversões

No outro dia caminhava, sentia uma leve gelatina que parecia derreter-se sobre os meus olhos, era uma sensação de vazio e de simulação contínua mas que parecia dilatar-se naquele preciso momento. Não sei o porquê destas sensações aleatórias e cumulativas, muitas vezes os meus olhos parecem ser televisores que repetem incansavelmente a mesma gravação, a mesma cassete. A programação já não sabia o significado das diferentes estações, os ecrãs estavam mergulhados num estranho e monótono invólucro cor de cinza. Era como o doce e bizarro sabor de uma pêra que acaba de ser embriagada num vinho melancólico. Ainda não descobri o botão de "zapping" frenético e quase alucinogénico que outrora conheci, a êxtase do tudo novo e a anulação dos novos anteriores. Quero mudar de canais, quero mudar de programações, quero que os meus olhos sejam aquários e não televisores. E assim, quero encher estes aquários com riquezas e não círculos repetitivos! Odeio as coisas repetitivas que esta humanidade ama, o carneirismo, a religião, as modas, o elitismo, o consumismo, as atrocidades, os juízos ocos, as competições sem sentido, odeio! Quero sentir os aquários a navegar sobre águas desconhecidas cujas profundidades me conduzem a um metafísico desejável, as melodias de tudo aquilo que não existe. Os meus aquários não são feitos de vidro, são inconstantes, assumem as formas que forem precisas para assim saltarem de metafísico em metafísico. Quero que o meu coração seja harmónica, que dê som infindável, sentir sopros constantes e naturais e esquecer tudo aquilo se esconde por detrás do rochedo.

Sem comentários: