Mantenho o meu olhar fixo na porta, naquela porta branca de uma brancura brilhante de mistério que me intimidava naquele canto. Esperei minutos, só sei que mantinha o meu olhar a boiar sobre o vácuo, à espera que estes véus da monotonia que cansavam as minhas vistas apodrecessem de vez. Mas sentia que aquela brancura se iria estilhaçar, não me conformava com aquilo que observava, estava inquieto, nervoso, sentia que a paisagem se iria desmoronar. Mas no bom ou no mau sentido? Nem sequer sabia se esse derreter de tonalidades brancas teria repercussões positivas ou negativas. A porta rangia de uma forma assombrosa, abria lentamente e a atmosfera passiva tinha sido completamente desfeita. As suas duas patas equilibravam a sua altura colossal e respeitosa, com costelas que sobressaíam à flor da sua pele e o seu focinho espreitava lentamente pela berma da porta enquanto que as paredes se ondulavam, distorcendo todo aquele cenário de forma imperceptível. Os olhos daquele cavalo pareciam esbugalhar-se à medida que a sua presença se impunha progressivamente no cenário. Dirigia-se lentamente até a mim, eu mantinha-me intacto sentado nem sei aonde, apreciava a anatomia daquele animal com estranhas linhas espinhosas que lhe rondavam a cabeça, com crinas que se prolongavam pelo seu dorso abaixo como cascatas. Apreciava o medo que se instalava nas pulsações rápidas do meu corpo, o meu hábito em observar tudo o que me rodeia como algo sujeito ao mutável finalmente fez parte do real. Inclinava-se perante o meu olhar em contrapicado, e em lentas e arrastadas palavras, ele dizia: “Eu sou Jesus Cristo, e preciso de um terapeuta”.
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