domingo, 15 de agosto de 2010

Delírio Esfumado

Era sem dúvida delirante. Sendo a experiência e a apreciação uma coisa constantemente variante e subjectiva sempre mencionei que estas não podem ser facilmente manipuláveis ou influenciáveis. Somos júris individuais ao apreciar aquilo que nos rodeia e o facto de sermos apreciadores individuais em grande parte das vezes é um factor que individualiza a nossa pessoa e nos converte à unicidade. Absorvemos situações, são nos deixadas pegadas temporais de diferentes dimensões sobre as nossas peles, o que torna a aprovação de influências um processo unicamente nosso.
E foi no dia 12 de Agosto, o imprevisível nevoeiro invadiu Aveiro. Ele pousa sempre de uma forma melancólica, ao mesmo tempo de uma belíssima forma, é eufemismo de si próprio, impõe à nossa frente uma camada de enigmas que alimentam um curioso e bonito mistério cujos passos desfazem fechaduras. Era uma espécie de tenebrismo iluminado, mas o delírio ainda nem sequer tinha chegado. O pinhal que se impunha à minha volta já tinha feito um chamamento bastante sedutor, as árvores escondiam-se em profundidades tímidas naquele dito nevoeiro. O belo está na solidão das linhas de horizonte, na forma como são deixadas sóbrias sem funções mecânicas, derretem-se sobre as planícies, a areia e todo o tipo de belo terreno.
Os meus pés iam caminhando sobre a areia, o tenebrismo iluminado no nevoeiro construiu uma arquitectura gasosa e espessa naquela praia, o mar calmo surgia como um ornamento que acasalava em harmonia com a pálida areia. Véus brancos em danças monótonas, ocultavam verdades inexistentes e oníricas alimentadas pelo meu ego. Em ansiedade, os meus passos levavam-me a encontros subliminares, de um subliminar que só me pertence. E o mar lembrava-me os orvalhos verdes e tímidos que em tempos gostei imenso de contemplar. Os meus olhos boiavam perante a paisagem, sendo arejados, a única coisa que queria naquele momento sem repetição possível era isolar-me e esquecer que as pessoas, as cidades e o sistema existem. Esta é a memória fotográfica de um momento metafísico, um tangente abandono do físico.

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